Homenagem que fizemos à Miltinho, textos de Raphael Vidigal
Miltinho é a voz do poema das mãos, da lágrima, da menina moça e da mulher de trinta. A voz que conta as estrelas do céu, as fases da lua e as gotas de água do mar. Na voz de Miltinho, o mundo ganha novas medidas, deixando um cheiro de saudade a cada instante.
“Nas minhas mãos a despedida
Nas tuas mãos a minha vida”
Miltinho divide os sambas com a destreza de quem esculpe uma pedra. Sambando com elegância por entre as notas. Juntando corações numa única batida de frases.
Mulher de trinta
Um dos primeiros sucessos da carreira de Miltinho foi o samba-bossa “Mulher de trinta”, que ele cantou em 1960 depois de passar pelos conjuntos vocais Cancioneiros do Luar, Namorados da Lua e Quatro Ases e um Coringa, como cantor e pandeirista. A música de Luís Antônio era um convite feito para uma mulher que já passou por muitas experiências, com a promessa de que ainda existem trilhas a serem percorridas, quem sabe ao lado do cantor da canção.
Menina moça
No mesmo ano que cantou “Mulher de trinta”, Miltinho lançou outro sucesso de Luís Antônio, com título que era justamente o oposto da outra música. “Menina moça” é um samba-bossa que reflete a beleza “mais menina que mulher” em comparações com a flor, o sol, a lua e o mar. O tempo é o grande tema da música de Luís Antônio.
Palhaçada
Miltinho é, sem dúvida, o grande intérprete de “Palhaçada”, samba de Luiz Reis e Haroldo Barbosa lançado em 1961. Sua voz anasalada e metálica cai como uma luva para vestir os trejeitos do homem que compreende as necessidades de sua amada e se submete a vestir-se tal qual o grande artista do circo: “cara de palhaço, roupa de palhaço, até o fim”.
Meu nome é ninguém
Outra grande canção da parceria Haroldo Barbosa e Luiz Reis gravada por Miltinho foi o samba “Meu nome é ninguém”, lançado pelo cantor em 1962. “Foi assim, a lâmpada apagou, a vista escureceu, um beijo então se deu”. Os sintomáticos versos iniciais da canção prenunciam o clima romântico e de conquista, mas surpreende por seu gran finale trágico, encerrando o caso sem mais delongas: “meu nome é ninguém, e o seu nome também...ninguém.”
Poema do olhar
Evaldo Gouveia e Jair Amorim deram a Miltinho uma das mais bonitas músicas de seu repertório. O samba-canção “Poema do olhar”, interpretado pelo cantor em 1962, contorna os simbolismos de uma relação baseada na entrega tão imensa que possibilita enxergar a si nos olhos da amada. Até que ela resolve fechar os olhos e não mais receber essa luz.
Lembranças
Miltinho se envolve com as “Lembranças” de um triste Raul Sampaio ao entoar a parceria do compositor capixaba com Benil Santos, lançada em 1962. “Lembro um olhar, lembro um lugar, teu vulto amado, lembro um sorriso e o paraíso, que tive ao teu lado.”
Homenagem que fizemos à Jacob do Bandolim, textos de Raphael Vidigal
O coração explosivo fulminou o homem-bomba. A última letra do primeiro nome, embora muda, já prenunciava o início musical do instrumento que ele iria tocar. Hoje ainda se fala no seu bandolim. Assanhado, diabinho maluco, bole-bole, doce de coco. Ainda se ouve suas vibrações, sua alvorada e a ginga do Mané. “Jacob toca Jacob, os outros tocam bandolim”. Disse Radamés Gnatalli sobre aquele que dominou o choro e não conteve as lágrimas e emoções, despejou tudo nas cordas de um pequeno pedaço de madeira que ele abraçou com coração pronto a explodir em notas e melodias. Discípulo de Ernesto Nazareth e Pixinguinha, Jacob do Bandolim é, segundo o coro de entendedores do gênero como Sérgio Cabral e Henrique Cazes, “o maior instrumentista que o Brasil já teve.” Um mestre.
Noites cariocas
“Noites cariocas” foi gravado por Jacob do Bandolim em maio de 1957, com o regional que o acompanhava na época, o de Canhoto. Apesar da excelência com que desenvolvia suas composições, o bandolinista ainda não vivia sua época de ouro, e acabou criando um certo rancor por Waldir Azevedo, que ocupou seu lugar na Continental e obteve grande sucesso de público e crítica. Três anos depois, Jacob regravaria o choro com o acréscimo do trombone do Maestro Nelsinho. “Noites cariocas”, com seu estilo levado que remete bem ao samba, ganhou letra de Hermínio Bello de Carvalho, gravações de Ademilde Fonseca, Áurea Martins, e outras, e se tornou o maior sucesso da carreira de Jacob do Bandolim.
Doce de coco
O “Doce de coco” do choro de Jacob do Bandolim é o nome carinhoso pelo qual o personagem da história chama sua amada. Nos versos escritos por Hermínio Bello de Carvalho em 1980, ele implora, pede, se humilha para que ela repense o amor dos dois. Esse amor tão gostoso e irresistível que merece ser chamado de doce de coco foi gravado por Ney Matogrosso e Elizeth Cardoso.
A Ginga do Mané
Jacob do Bandolim era vascaíno e compôs para o clube do coração um choro com esse mesmo nome, no qual imitava o som de uma guitarra portuguesa. Por não tão incrível que pareça, dada a personalidade controversa e interessante do instrumentista, ele compôs com igual maestria uma música para um ídolo do time rival: Mané Garrincha, o anjo das pernas tortas que chamava os marcadores de João. “A Ginga do Mané”, de 1952, é choro do menino que começou tocando violino e acabou instaurando toda uma nova história do bandolim no Brasil.
Vibrações
Em 1964, Jacob do Bandolim criaria o conjunto de choro que permaneceria para sempre na história: o Época de Ouro. Com a adesão de César Faria, pai de Paulinho da Viola e seu grande amigo, no violão de 6 cordas, Carlinhos Leite no outro violão, Dino no violão 7 cordas, Jonas no cavaquinho e Gilberto D’Ávila no pandeiro. Conjunto formado, Jacob realizou seus dois trabalhos de maior impacto: primeiro gravou “Suíte Retratos”, homenagem aos precursores da música brasileira como Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros que Radamés Gnatalli dedicou a ele. O segundo, o álbum mais aclamado de sua discografia e dono de rara hegemonia entre críticos e público: Vibrações, de 1967, que trazia entre outras, a faixa-título, uma preciosidade!
De Sérgio Bittencourt para Jacob do Bandolim: Naquela Mesa
“De Sérgio Bittencourt para Jacob do Bandolim”, assim Elizeth Cardoso anuncia a homenagem emocionada do filho jornalista e compositor para o pai bandolinista. Regravada diversas vezes por grandes nomes do quilate de Nelson Gonçalves e incorporada ao repertório informal dos seresteiros, “Naquela Mesa” tornou-se clássico da canção brasileira em reverência àquele que além de músico, dedicou-se a pesquisar o choro, e transformou-se em salutar referência do gênero. À Jacob do Bandolim, “Naquela Mesa”!
Miltinho é a voz do poema das mãos, da lágrima, da menina moça e da mulher de trinta. A voz que conta as estrelas do céu, as fases da lua e as gotas de água do mar. Na voz de Miltinho, o mundo ganha novas medidas, deixando um cheiro de saudade a cada instante.
“Nas minhas mãos a despedida
Nas tuas mãos a minha vida”
Miltinho divide os sambas com a destreza de quem esculpe uma pedra. Sambando com elegância por entre as notas. Juntando corações numa única batida de frases.
Mulher de trinta
Um dos primeiros sucessos da carreira de Miltinho foi o samba-bossa “Mulher de trinta”, que ele cantou em 1960 depois de passar pelos conjuntos vocais Cancioneiros do Luar, Namorados da Lua e Quatro Ases e um Coringa, como cantor e pandeirista. A música de Luís Antônio era um convite feito para uma mulher que já passou por muitas experiências, com a promessa de que ainda existem trilhas a serem percorridas, quem sabe ao lado do cantor da canção.
Menina moça
No mesmo ano que cantou “Mulher de trinta”, Miltinho lançou outro sucesso de Luís Antônio, com título que era justamente o oposto da outra música. “Menina moça” é um samba-bossa que reflete a beleza “mais menina que mulher” em comparações com a flor, o sol, a lua e o mar. O tempo é o grande tema da música de Luís Antônio.
Palhaçada
Miltinho é, sem dúvida, o grande intérprete de “Palhaçada”, samba de Luiz Reis e Haroldo Barbosa lançado em 1961. Sua voz anasalada e metálica cai como uma luva para vestir os trejeitos do homem que compreende as necessidades de sua amada e se submete a vestir-se tal qual o grande artista do circo: “cara de palhaço, roupa de palhaço, até o fim”.
Meu nome é ninguém
Outra grande canção da parceria Haroldo Barbosa e Luiz Reis gravada por Miltinho foi o samba “Meu nome é ninguém”, lançado pelo cantor em 1962. “Foi assim, a lâmpada apagou, a vista escureceu, um beijo então se deu”. Os sintomáticos versos iniciais da canção prenunciam o clima romântico e de conquista, mas surpreende por seu gran finale trágico, encerrando o caso sem mais delongas: “meu nome é ninguém, e o seu nome também...ninguém.”
Poema do olhar
Evaldo Gouveia e Jair Amorim deram a Miltinho uma das mais bonitas músicas de seu repertório. O samba-canção “Poema do olhar”, interpretado pelo cantor em 1962, contorna os simbolismos de uma relação baseada na entrega tão imensa que possibilita enxergar a si nos olhos da amada. Até que ela resolve fechar os olhos e não mais receber essa luz.
Lembranças
Miltinho se envolve com as “Lembranças” de um triste Raul Sampaio ao entoar a parceria do compositor capixaba com Benil Santos, lançada em 1962. “Lembro um olhar, lembro um lugar, teu vulto amado, lembro um sorriso e o paraíso, que tive ao teu lado.”
Homenagem que fizemos à Jacob do Bandolim, textos de Raphael Vidigal
O coração explosivo fulminou o homem-bomba. A última letra do primeiro nome, embora muda, já prenunciava o início musical do instrumento que ele iria tocar. Hoje ainda se fala no seu bandolim. Assanhado, diabinho maluco, bole-bole, doce de coco. Ainda se ouve suas vibrações, sua alvorada e a ginga do Mané. “Jacob toca Jacob, os outros tocam bandolim”. Disse Radamés Gnatalli sobre aquele que dominou o choro e não conteve as lágrimas e emoções, despejou tudo nas cordas de um pequeno pedaço de madeira que ele abraçou com coração pronto a explodir em notas e melodias. Discípulo de Ernesto Nazareth e Pixinguinha, Jacob do Bandolim é, segundo o coro de entendedores do gênero como Sérgio Cabral e Henrique Cazes, “o maior instrumentista que o Brasil já teve.” Um mestre.
Noites cariocas
“Noites cariocas” foi gravado por Jacob do Bandolim em maio de 1957, com o regional que o acompanhava na época, o de Canhoto. Apesar da excelência com que desenvolvia suas composições, o bandolinista ainda não vivia sua época de ouro, e acabou criando um certo rancor por Waldir Azevedo, que ocupou seu lugar na Continental e obteve grande sucesso de público e crítica. Três anos depois, Jacob regravaria o choro com o acréscimo do trombone do Maestro Nelsinho. “Noites cariocas”, com seu estilo levado que remete bem ao samba, ganhou letra de Hermínio Bello de Carvalho, gravações de Ademilde Fonseca, Áurea Martins, e outras, e se tornou o maior sucesso da carreira de Jacob do Bandolim.
Doce de coco
O “Doce de coco” do choro de Jacob do Bandolim é o nome carinhoso pelo qual o personagem da história chama sua amada. Nos versos escritos por Hermínio Bello de Carvalho em 1980, ele implora, pede, se humilha para que ela repense o amor dos dois. Esse amor tão gostoso e irresistível que merece ser chamado de doce de coco foi gravado por Ney Matogrosso e Elizeth Cardoso.
A Ginga do Mané
Jacob do Bandolim era vascaíno e compôs para o clube do coração um choro com esse mesmo nome, no qual imitava o som de uma guitarra portuguesa. Por não tão incrível que pareça, dada a personalidade controversa e interessante do instrumentista, ele compôs com igual maestria uma música para um ídolo do time rival: Mané Garrincha, o anjo das pernas tortas que chamava os marcadores de João. “A Ginga do Mané”, de 1952, é choro do menino que começou tocando violino e acabou instaurando toda uma nova história do bandolim no Brasil.
Vibrações
Em 1964, Jacob do Bandolim criaria o conjunto de choro que permaneceria para sempre na história: o Época de Ouro. Com a adesão de César Faria, pai de Paulinho da Viola e seu grande amigo, no violão de 6 cordas, Carlinhos Leite no outro violão, Dino no violão 7 cordas, Jonas no cavaquinho e Gilberto D’Ávila no pandeiro. Conjunto formado, Jacob realizou seus dois trabalhos de maior impacto: primeiro gravou “Suíte Retratos”, homenagem aos precursores da música brasileira como Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros que Radamés Gnatalli dedicou a ele. O segundo, o álbum mais aclamado de sua discografia e dono de rara hegemonia entre críticos e público: Vibrações, de 1967, que trazia entre outras, a faixa-título, uma preciosidade!
De Sérgio Bittencourt para Jacob do Bandolim: Naquela Mesa
“De Sérgio Bittencourt para Jacob do Bandolim”, assim Elizeth Cardoso anuncia a homenagem emocionada do filho jornalista e compositor para o pai bandolinista. Regravada diversas vezes por grandes nomes do quilate de Nelson Gonçalves e incorporada ao repertório informal dos seresteiros, “Naquela Mesa” tornou-se clássico da canção brasileira em reverência àquele que além de músico, dedicou-se a pesquisar o choro, e transformou-se em salutar referência do gênero. À Jacob do Bandolim, “Naquela Mesa”!
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